Apresentação do Caderno Cultural "A Parteira de Alpiarça, Memórias de Noémia Domingos Nuno Coelho" de João Monteiro Serrano
Dia 11 de março, 16h00
São precizas parteiras examinadas nos campos, que não há, e pelas não haver, ou não prestarem, morrem neste acto muitas mulheres, e muitas crianças, pois assim como ha Medicos pagos, deve haver parteiras pagas, com o maior fundamento de que das mãos dos Medicos, vai se da vida para a morte, que não tem remédio, e das mãos das parteiras vem o Homem do nada para a vida, que se facilita com a boa assistência.
MORDAU, D. Luiz Ferrari - Despertador da Agricultura de Portugal (finais do século XVIII)
“Das mãos das parteiras vem o Homem do nada para a vida, que se facilita com a boa assistência”… Este extracto coloca em evidência a importância que de há muito se atribuiu ao papel insubstituível das parteiras, nesta caso num texto português de finais do século XVIII. Hoje a realidade é diferente em Portugal, mas o papel das parteiras volta a estar presente, na hora de as mães e as famílias tomarem a decisão de confiar o parto ao Hospital e às suas equipas especializadas, quando parece estar de regresso a convicção que o parto em casa, ou o parto assistido num ambiente de maior intimidade – o que na maternidade do Hospital nem sempre é possível – com a presença da parteira, é outra boa solução para garantir o nascimento da criança.
Este Caderno aproxima-se dos tempos em que o parto em casa era a regra para as mães, assistidas por uma parteira que tirou o seu curso nos Hospitais da Universidade de Coimbra, em 1946, perante um júri de catedráticos da especialidade que a aprovaram como “hábil para poder exercer a Arte de Parteira”, o que ocorreu durante décadas consecutivas em Alpiarça, a sua amada terra de sempre.
Pelas suas mãos e pelo seu extremoso cuidado passaram centenas de nascituros alpiarcenses, valendo por isso justificar o título de “Parteira de Alpiarça”.

A partir das suas recordações e das fotos e documentos que nos facultou, é possível revisitar tempos que marcaram gerações sucessivas e que abriram portas ao surgimento de novos tempos e novas mentalidades.
Noémia Domingos Nunes contribuiu para abrir as portas da modernidade na Arte que tanto amou e prestigiou, a Arte de Parteira, como se refere no seu Diploma. Bem-haja pelo seu enorme exemplo de vida, como profissional, como mulher, como esposa e mãe, e como cidadã.